O ceticismo necessário


"Descobrir a gota ocasional de verdade no meio de um grande oceano de confusão e mistificação requer vigilância, dedicação e coragem. Mas, se não praticarmos esses hábitos rigorosos de pensar, não podemos ter a esperança de solucionar os problemas verdadeiramente sérios com que nos defrontamos - e nos arriscamos a nos tornar uma nação de patetas, um mundo de patetas, prontos para sermos passados para trás pelo primeiro charlatão que cruzar o nosso caminho". (Carl Sagan)

quinta-feira, 8 de julho de 2010

terça-feira, 15 de junho de 2010

A deliberada deformação da mente infanto-juvenil


A deliberada deformação da mente infanto-juvenil

Alberto Oliva
Pesquisador I-B do CNPq. Coordenador do Centro de Epistemologia e
História da Ciência da UFRJ


Quem Sabe Faz a Hora ou faz a Cabeça?

Em 2000, no livro A Solidão da Cidadania (Ed. Senac), denunciamos que as crianças e os adolescentes brasileiros tinham virado indefesas cobaias nas mãos dos lobos da ideologia. Antes mesmo de o PT chegar ao poder, os livros didáticos já estavam impregnados de esquerdismo superficial e manipulador. Nos  últimos anos, como bem mostrou Ali Kamel em O Globo, tudo só fez piorar. Hoje, o MEC distribui livros didáticos, pagos com o suado dinheiro do contribuinte, que sequer têm pejo em abertamente fazer propaganda político-partidária. O Brasil tem descido a ladeira da ética nos últimos anos, não tanto em virtude de os atuais donos do poder terem inventado novas modalidades de corrupção, mas pelo destemor com que as têm praticado e pelo cinismo e indiferença com que têm reagido às denúncias.
Além de ser um dos piores do mundo, o ensino básico no Brasil ainda é palco de maciça doutrinação ideológica. A má qualidade está associada, entre outras coisas, ao anacronismo dos currículos, ao despreparo de parte dos docentes e à deslavada ideologização do tratamento dispensado aos temas humano-sociais. Tudo culminando na insipidez pedagógica, na falta generalizada de criatividade. O aluno é tratado como uma espécie de receptáculo que passivamente absorve as teorias apresentadas como científicas e as “verdades” da vida político-social nacional e internacional. Ao ignorar a realidade e deturpar fatos para poder manipular as consciências indefesas dos estudantes, o ensino ideologizado se reduz à transmissão de pseudoconhecimentos. E, ao ser politicamente instrumentalizado, abandona completamente a preocupação com a verdade. E o vale-tudo em nome de imperativos ideológicos revela grosseira falta de ética.
O ensino movido a decorebas adestra crianças para recitar incompreensíveis textos e fórmulas esotéricas. Professores intelectualmente limitados podam a criatividade em prol da repetição mecânica e da inculcação ideológica. Fazem do infante e do jovem esponja de explicações erradas e/ou insossas, deixando de estimulá-los a tentar desvendar os apaixonantes segredos da natureza e a lidar com os instigantes desafios da vida social. Dado o baixo nível do ensino ministrado no Brasil, aprender é sinônimo de repetir sem pensar. Disso se aproveitam os lobos da ideologia para catequizar os cordeiros intelectualmente desprotegidos. Com isso, a transmissão de conhecimento deixa de ser o fascinante empreendimento devotado à busca de explicação dos fenômenos naturais e dos fatos da vida societária.
Houve época em que no Brasil muitos tentaram propagar as idéias marxistas com um mínimo  de dignidade intelectual e respeito aos fatos. Hoje, o ensino de primeiro e segundo graus está infestado de livros e professores que sequer sabem ensinar o marxismo vulgar. Quase duas décadas depois da queda do Muro de Berlim, os neocatequistas do socialismo teimam em esconder seus escombros. Nossas crianças e jovens estão entregues a professores que longe de informar com objetividade e ensinar a pensar, adestram consciências para que repitam mecanicamente velhos e gastos mantras ideo lógicos. Fatos antigos e recentes são solenemente desconsiderados ou interpretativamente manipulados para que falidos sistemas de gerir a economia sejam apresentados como mais justos que a economia de mercado. Ditadores socialistas que se eternizaram no poder perpetrando barbaridades contra os direitos humanos são descritos como encarnações de idéias e ideais redentores.


Só o Poder Socialista é Benigno!

Nas décadas de 50 e 60, quando começaram a surgir as primeiras e insubmergíveis histórias de repressão e crimes políticos na União Soviética, na Europa oriental e na China, muitos intelectuais sagazmente atribuíram o descaminho do socialismo real à ação nefasta de governantes que ousaram se afastar dos puros ideais revolucionários. Hoje, sequer há esse tipo de escrúpulo. Como a ética foi completamente defenestrada em nome do comprometimento ideológico, os livros didáticos, principalmente de história e geografia, defendem abertamente os Maos e, os menos caras-de-pau, fingem que os Stalins não existiram. Como se não pesassem sobre os ombros das ditaduras socialistas milhões de cadáveres ideológicos. Curiosamente, os donos do poder político discricionário só são severamente julgados se não forem socialistas. É possível ser mais faccioso?
Não estamos livres do risco de aparecer um livro didático, bancado e adotado pelo MEC, sustentando que Pol Pot foi um revolucionário de boa cepa – um humanista sensível que formou o Khmer Vermelho para libertar o Camboja do imperialismo ianque – e que os dois milhões de cadáveres produzidos por seu projeto socialista foram um acidente de percurso.

A Barbárie da Pedagogia Socialista

Assusta o fato de no Brasil nunca ter sido feito um efetivo debate sobre a validade das idéias socialistas nem antes e nem depois da derrocada do Império Soviético. Aparecem por isso como assombrações intelectuais nos livros e nas aulas de doutrinadores travestidos de professores. Por ser hegemônico no Brasil, o esquerdismo pode se dar ao luxo de pespegar rótulos desairosos naqueles que o criticam. O Brasil é um país ideologicamente monocórdio. O formador de idéias que fugir da cartilha socialista será visto como um leproso intelectual.
Nenhuma corrente de pensamento precisa se autodestruir. Mas tem a obrigação, sobretudo quando acoplada a uma prática política, de reconhecer suas eventuais falhas explicativas e de assumir de modo penitente os eventuais estragos morais e humanos que porventura venha a fomentar e gerar como obra sua. Não pode se esconder da avaliação crítica proclamando que está sempre certa, que é a encarnação da Verdade e da Justiça, e que as outras linhagens de pensamento estão condenadas a ser retrógradas. O fato de historicamente as sociedades abertas – Estados pequenos e eficientes em associação com autênticas economias de mercado – terem gerado os melhores resultados sociais tem sido totalmente desconsiderado pelos que querem impor mais uma vez o socialismo. Só que agora, adaptando Marx, não mais como tragédia, mas como farsa. O afeiçoamento a esquemas fechados de pensamento que tudo fazem para se proteger das intempéries do mundo é uma modalidade de obtusidade mental.

Ideologia e Lavagem Cerebral

É um crime contra a infância e a adolescência, digno de figurar no Estatuto da Criança e do Adolescente, inocular esqueminhas ideológicos que fazem malabarismos com os fatos a fim de ocultar o que significam. Impor antolhos a quem está formando seus modos de ver e julgar a realidade social é um crime, é uma forma disfarçada de preparar o caminho para o autoritarismo e até para o totalitarismo. Além de representar uma completa descrença quanto à possibilidade de se poderem compreender os fatos com um mínimo de isenção. Quando se pensa que tudo é guerra ideológica, a preocupação com a objetividade e com o máximo de isenção possível é ridicularizada. Se a filosofia nada mais é que a luta de classes deslocada para o campo da teoria, a única coisa que importa é estar do lado da classe revolucionária. Às favas os escrúpulos e os protocolos de honestidade intelectual.
Independentemente da inclinação política que tenha, o pai que se der ao trabalho de acompanhar o que está sendo ensinado a seus filhos dificilmente concordará com a rasteira ideologização a que estão sendo submetidos pelos mestres da área humano-social. A pretexto de tornar acessível a crítica ao chamado modo de produção capitalista, estão sendo ensinadas as versões mais toscas do velho marxismo cansado de história. Atualmente, os acontecimentos não estão mais sendo apenas enquadrados num “modelo interpretativo” de grande indigência explicativa. O arrebatado fervor maniqueísta está com descaro escondendo o que realmente aconteceu na história mundial recente e atribuindo todos os males sociais ao maldefinido neoliberalismo. Pode haver embuste intelectual maior? E maior deformação no processo de formação da consciência cidadã – livre e autônoma – do jovem?
Versões simplistas e grosseiras da teoria da exploração, reabilitação de tiranos e visões edulcoradas sobre “paraísos socialistas tropicais” grassam nas aulas e livros. Em culturas marcadas pela desresponsabilização do indivíduo e pela inculpação do Sistema, a indignação epidérmica e veemente arregimenta com facilidade batalhões de simpatizantes e seguidores. Todos passam a repetir as mais rematadas tolices com ares de sabedoria. Os jovens são presas fáceis porque passam a se achar, repetindo as falsas explicações de professores-doutrinadores, capazes de julgar sumariamente o mundo e de aviar remédios para seus longevos males. Os professores que mais fazem sucesso são os que, em vez de ensinarem a exercitar o pensamento crítico, geram no aluno a ilusão de que com o pouco que sabem estão aptos a julgar de modo peremptório as complexas engrenagens sociais. Raros são os livros didáticos, as apostilas e as aulas expositivas que evitam a ideologização escancarada e a partidarização aberta ou subliminar.

Os Inimigos do Pluralismo e do Intercâmbio Crítico

É claro que os profissionais do ensino que lêem de joelhos, com antolhos ideológicos e nenhum distanciamento crítico, não exercitam sua capacidade autônoma de pensar. E por isso não têm como ensinar com isenção. O que fazem é apenas propagar de modo canhestro um esquema fechado de pensamento. De modo sorrateiro, misturam ingredientes intelectuais e emotivos, para demonizar o “neoliberalismo” e sacralizar o socialismo, ocultando as falhas deste e os efeitos que gerou após sua implantação. O ensino sério pode-se beneficiar  do estudo de qualquer autor, de qualquer corrente de pensa-mento. O criminoso é transformar um sistema filosófico, veiculado por meio de chavões doutrinários, em expressão da Verdade e em encarnação da Justiça. Os inimigos do pensamento são exatamente aqueles que matam o pluralismo genuíno, que só falam de correntes diferentes de sua “religião” para ridicularizá-las e satanizá-las. O maniqueísmo simplista abraçado por imperativos ideológicos se sobrepõe a qualquer preocupação com a cientificidade do que se está proclamando.
Como os jovens são cada vez mais videomaníacos, cada vez mais avessos aos livros, ficam confinados ao material didático. O desinteresse em buscar visões alternativas faz com que o ensino ideologizado provoque estragos intelectuais ainda maiores. Falta honestidade intelectual aos que deformam consciências por fidelidade canina a uma ideologia. Lavagens cerebrais são condenáveis, independentemente  daquilo em nome de que são feitas. Por ter desabrido espírito contestatório e pouca (in)formação, o jovem é muito suscetível às pregações esquemáticas e maniqueístas. O enorme coração lhe infunde a confiança de que com impetuoso voluntarismo pode-se construir o mundo das perfeições utópicas. O ensino doutrinador que recebe é pedagogicamente pernicioso por suprimir o exercício do pensamento crítico e eticamente condenável por vincular, de forma falsa e injusta, “as outras visões filosóficas” a interesses espúrios e a projetos de manipulação política e dominação econômica.


A Caminho da Servidão Voluntária

O esquematismo ideológico precisa ser rechaçado porque ensina erradamente, desconsiderando evidências empíricas, e porque omite a existência de visões alternativas ou porque só alude a elas para deformá-las de modo a fazê-las parecer explicativamente equivocadas e comprometidas com as “forças do mal”. Ao impedir a florescência do espírito pluralista, esse tipo de ensino sorrateiramente pavimenta o caminho da subordinação da cidadania ao poder totalitário.
A ossificação doutrinária e a petrificação ideológica travam a possibilidade de criatividade intelectual e provocam o embotamento do espírito crítico. Em vez de mostrarem que nas ciências humanas e sociais não há a menor justificativa para atitudes dogmáticas, uma vez que várias são as escolas de pensamento que nelas se aninham, os formadores da “consciência revolucionária” adotam a postura do Dicionário de Filosofia de Rosenthal e Iudin, símbolo da estreiteza intelectual do oficialismo soviético, que considerava todos os pensadores, à exceção da família que deu origem ao socialismo, nefelibatas venais a serviço da perpetuação dos mecanismos de exploração das classes dominantes.
O esforço de dar sentido ao mundo das relações sociais não pode ser reduzido à versão simplista de uma teoria – a marxista - que tenta até hoje proteger-se dos “fatos” proclamando que o mundo ainda não foi capaz de imitá-la, já que ainda não se deixou moldar por ela. Assim pensar é sacralizar uma ideologia, é condenar a história por não se ajustar à teoria. Ao defender que o erro nunca está na teoria, e sim em quem a emprega, esse tipo de pensamento mágico barra o exercício teórico da crítica com base no pressuposto de que existe a Verdade, e que se ela não se torna Realidade é por culpa dos que se desviam dela. Esta é a origem da famosa autocrítica nos países onde existiu o socialismo.

Pensamento Único. De Quem?

A única obrigação do intelectual autoproclamado socialista é recusar, tenha ou não fundadas razões, o Sistema. E caso a Utopia, ao chegar ao Poder, piore a realidade, deve-se culpar por isso a atuação dos que desviaram a história do Grande Ideal.
Recebem as filosofias “conservadoras” avassaladoras críticas pela suposta sustentação ideológica que dão ao establishment; mas se críticas, mesmo que criteriosas, forem feitas ao pensamento “revolucionário”, serão tachadas de reacionárias. Com isso, cria-se a vassalagem intelectual ao que é entronizado como revolucionário, que acaba substituindo a verdade revelada da religião. Por isso ensinar humanidades no Brasil passou a ser no fundo equivalente a inculcar uma ideologia. Colocar-se contra o Sistema esgota o potencial de exercício da crítica. Mas se fosse assim, quanto mais radical fosse o rechaço da ordem, inclusive da democrática, mais verdade seria gerada. Como se, por mágica, até o mais palmar disparate, desde que contestatório, ganhasse foros de verdade e força libertária.
Os que fazem a catequese ideológica obtusa são, em muitos casos, justamente os que denunciam que vivemos num mundo de pensamento único. Talvez se refiram ao próprio, porquanto não há escola neste país cuja  maioria de seus professores exponha, com senso de equidade intelectual, as famigeradas “filosofias burguesas”.
O aluno no Brasil é tratado como receptáculo passivo, e não como “inteligência em construção”. Por isso tudo se faz para moldar ideologicamente sua consciência político-existencial. O aluno, tratado como massa inerte desprovida de chama prometéica, é reduzido a papagaio de fórmulas e sistemas de idéias. Ao privilegiar a repetição mecânica e a doutrinação ideológica, a escola trata o estudante como mero recipiente de informações técnicas e posições políticas. O repetitivismo e o ideologismo impedem que crianças e jovens sejam vistos como sementes que abrigam possibilidades de ser e pensar que podem desabrochar ou para sempre ficar adormentadas. A mais promissora pedagogia é a que estimula a livre criação e a multiplicidade de óticas em competição pela melhor explicação. E não a que ardilosamente se empenha para dominar ideologicamente as consciências juvenis e assim pavimentar o caminho que leva à implantação do autoritarismo ou do totalitarismo travestido de socialismo redentor.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

segunda-feira, 12 de abril de 2010

sábado, 10 de abril de 2010

poema para dilma


MENTE, MENTE
Adaptação do Poema de Domingos caldas Barbosa

Escutae, pobres eleitores,
Um eleitor experiente,
A dilma que diz que faz
Certamente mente, mente.

Se um eleitor carinhoso
Lhe faz ver o voto ardente,
Ela lhe promete o PAC,
Certamente mente, mente.

E' um gosto vêr a candidata
Diante de muita gente,
Protestando ter fé pura
Certamente mente, mente.

Pois se o eleitor a outro escolhe
Bem cortez e bem prudente,
dilma finge não ter ciúme,
Certamente mente, mente.

Se acaso do triste eleitor
Algum tempo esteve ausente,
Ela .jura ter saudades,
Certamente mente, mente.

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